terça-feira, 5 de outubro de 2010

24 horas, por Julieta*

Eram quase 22h quando percebi uma movimentação estranha. Os humanos esconderam nossa água e comida, mas nem liguei, fui dormir. Lá pras 23h, mamãe me tirou da cama, me levou pro quarto dela e fechou a porta. Miei a noite toda, dormi mal, não estava entendendo nada. No dia seguinte, aproveitei uma fresta e me esgueirei pra liberdade. Reencontrei os outros donos da casa, Thomas e Igor, e eles também não entendiam por quê os humanos esconderam nossos víveres. Mas o pior ainda estava por vir...

Eram 10 horas quando mamãe me enfiou dentro da maldita caixa de transporte. Eu adoro dormir na caixa de transporte, mas sempre que alguém me enfia lá e fecha a portinha, vem merda. Não foi diferente desta vez. Da caixa de transporte fui levada até uma outra caixa, maior, muito barulhenta e que se mexe sozinha, chamada carro. Nesta caixa sacolojei por uma eternidade. Fui levada pra uma casa cheia de cães e gatos, com cheiros de muitos bichos diferentes, e eles faziam muito barulho. Mamãe me tirou da caixinha de transporte e me colocou numa cama, onde um moço espetou meu braço. Aí eu dormi e não lembro de mais nada.

Acordei assustada e dei conta que me faltavam dentes, mas os que ficaram estavam bem lisinhos. Minha boca doía. Dei uma unhada no moço que tinha me espetado, só pra ele ficar ligado e não sair furando os outros assim, de graça. Me colocaram de novo na caixa de transporte e depois na outra caixa, o carro. Ainda estava meio zonza, sacolejei mais até chegar em outra casa, também com muitos bichos. Mamãe me deu água e patê, mas eu estava de mal com ela, então não comi. E minha boca doía, né? Isso tira a fome, po. Passei mais uma eternidade, mas pelo menos ninguém me encheu o saco e pude tirar um cochilinho.

Já estava escuro quando voltei pra grande caixa sacolejante barulhenta. Estava doida pra fazer xixi e ninguém foi gente de me dar uma areiazinha, tive que me aliviar ali mesmo, nem pude enterrar. O-di-ei. E mamãe foi conversando comigo até chegar em casa. Tsc, muito que eu queria papo com essa malvada que me deu este dia de cão...

Foi um alívio quando a porta se abriu e reconheci minhas coisas, meu arranhador-sofá, meu cheiro, meu cobertor, meus cúmplices coleguinhas felinos. Fui direto pra minha toca curtir as mágoas. Mamãe continua me dando a porcaria do comprimido rosa, mas nem estou mais tão aborrecida com ela. Minha boca não dói mais e parei de babar, então algo de positivo houve nesse dia escroto. Só espero que não me arrumem mais passeios tão cedo.

*Julieta, minha gata, fez ontem cirurgia pra remoção de tártaro e extraiu uns dentinhos. Se recupera bem e já voltou a comer. :)

9 comentários:

Peterson Quadros disse...

Boa a história. Deu para sentir a porcaria do dia. Me senti um gato (no sentido animal do termo) agora...
Por acaso não foi a Julieta que digitou ou foi?

Dona Mila disse...

hahaha, Juju ditou a história pra mim em gatês, eu traduzi e transcrevi. Ela não tem muita prática com teclado... :)

Marcelo disse...

Ah, Juju! Tão fofa! :)
Aliás, não seria ótimo se nos dessem uma anestesia assim quando fôssemos ao dentista? Odeio o som da broca! Hunf!

Maquiadora disse...

nmolito odeia o som da broca, mas se amarra numa brocada!
uahauhauhua

nao pude perdoar essa!

***GrAzI disse...

Que fofa!! Simpatizei um monte com o relato da Julieta! rs
Bjos!

Thata disse...

Passei hoje para reler essa estória. Adorei!!! Fiquei pensando e repensando e apesar de eu não gostar de gatos, me apaixonei pela Julieta-sem-alguns-dentinhos.

Jux disse...

Camilíssima.
Obrigada pela resposta.
Enton, bons tempos à gatíssima Juju, com muito cafuné e um ótemo feriado para você. Divirta-se pra xuxu, you deserve!

Dona Mila disse...

Juju é linda e tá muit bem. Hoje termina o antibiótico. :D

Insana disse...

"Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças"
Charles Darwin


Bjs
Insana