Fila de banco moderna é outra coisa. Não ficamos mais em pé, um atrás do outro, andando a passinhos de tartaruga enquanto não chega nossa vez; hoje, pega-se uma senha e senta-se. Simples, prático e bem menos desconfortável.
O mal da fila
muderna são seus usuários, que
não entendem que se deve pegar uma e apenas uma senha. Aí o cliente que apertou duas vezes o botão espera o banco encher pra fazer a suposta caridade de dar um dos números pra outra pessoa. Que, claro, aceita. Quem vai esperar chegar o seu 217 se uma boa alma ofereceu o 183?
Mas isso, minha gente, é furar fila. Você ser atendido antes de outra pessoa que chegou primeiro e está aguardando há mais tempo, é furar fila. Não interessa se a pessoa abdicou do lugar em seu favor. O justo, neste caso, é ignorar o número e TODOS serão atendidos mais rápido.
Esta semana fui ao banco fazer não-sei-o-quê. Peguei o nº 128 e sentei. Estava no noventa e poucos, o banco nem estava muito cheio. Vira pra mim uma senhora e "filha, toma esse aqui", e me deu o 111. Nem gastei saliva, guardei no bolso, agradeci e continuei esperando o 128. Aí ela ofereceu outro, o 115, pra jovem senhora do 129. A
bondosa distribuidora de senhas em questão também pegou senha da fila preferencial, mesmo não estando grávida, mesmo tendo claramente menos de 60 anos, mesmo não tendo nenhuma deficiência aparente. Vai ver que ela pensa que deficiência de caráter também a beneficia com a fila preferencial. Mas que seja, se o caixa atende, não é problema meu. A 129, essa sim, era.
Levantei e parei do lado da 129. Olhei nos olhos e "
com lincença, boa tarde! Percebi que a senhora também ganhou uma senha, certo? Então, aquela senhora também me deu esta, a 111, só que se a gente usar essas senhas, nós estaremos furando fila, na frente de todas essas outras pessoas que chegaram antes de nós. E isso é feio, né? Eu não vou usar a minha, sugiro que a senhora faça o mesmo, mas vai da sua consciência!". Ela sorriu amarelo, sem graça, e eu me sentei. Quando chamaram o 115, a sujeitinha foi ao caixa. Olhei firme pra ela, que deu umas olhadas pra trás, meio incomodada, sabem? Quando ela passou por mim depois de ser atendida, mal conseguia desviar o olhar. Certeza que ela me ouviu dizer "bela consciência!". Fui atendida 12 minutos depois. E, sinceramente, espero que ela tenha perdido mais de 12 minutos pensando no que fez, mas meu pai jura que ela deve só ter rido por dentro e pensado "ha, ha, otária! Eu que sou espertona, lá lá lá".
Tá, caguei pra ela.
Mas pra vocês, meus amigos, eu não cago. Então gostaria muito de saber:
o que vocês fazem quando ganham uma senha de outro no banco?
Ah, só pra fechar. A ignorante passou na frente de uma moça visivelmente doente, que esperava a vez com sua filhinha, que estava impaciente perguntando "falta muito, mamãe?". Cortou meu coração.